segunda-feira, 4 de junho de 2007

Look, a new coffee-maker!

via Indexed

Nos dias que correm, frequentar um curso superior não é um dom, um privilégio ou uma honra...é uma obrigação, seja qual for o curso, seja qual for a média!

As licenciaturas existem em abundância distribuídas entre o sector público e o sector privado, sendo que este último é capaz de atingir extremos em relação à qualidade e exigência do ensino. A ideia de que o nível de escolarização da nossa população é muito baixa, quando comparada com a média europeia, está a gerar um efeito perverso de aposta no topo e não na base no que diz respeito à "hierarquia da formação". Temos assim poucas saídas especializadas no final do 9º e do 12º ano, mesmo sabendo que uma larga percentagem da população opta por trabalhar ou por uma solução "profissionalizante" nesta idade, mas existe uma inúmera oferta de cursos (ditos) superiores que encaixam qualquer pessoa com recursos, para estudar de tudo um pouco e para aprender de tudo o nada por vezes. Dentro de algumas das áreas mais abrangentes temos especializações de tudo e mais alguma coisa, mas que no final são equiparadas às licenciaturas mais completas e abrangentes. Mesmo com sucessivos desastres nas notas dos exames nacionais do final do 12º ano, a realidade do acesso ao ensino superior é sempre mais colorida ...

... Se não for para o curso X, temos o Y e se não servir a específica de matemática utilizemos o português ou até o inglês e se não der na cidade vamos para a vila ou para o campo, ou então até chateamos o papá e vamos para uma das "escol(h)as d(a)e elite" deste nosso Portugal no ensino sempre muito Independente e Internacional que encontramos no sector privado.
<< O povo diz que "um burro carregado de livros é um doutor". Um povo carregado de cursos é um desastre. >>

5 comentários:

Pedro Morgado disse...

Caro Helder,

Acho o teu texto brilhante... até à citação final.

De facto a citação destrói toda a ideia que querias passar com o texto. O facto de o país estar carregado de cursos não é um desastre... Desastre é muitos desses cursos não terem qualidade.

BlogMinho disse...

BLOGMINHO
I Encontro de Bloggers e Leitores de Blogues do Minho
Está a decorrer a votação do local. Participa.

HMAG disse...

Ora então vejamos as coisas a título de exemplo na tua área, que á priori será a que menos sofre deste problema de "falta de uniformização":

Área de Saúde

- Análises Clínicas e de Saúde Pública
- Análises Clínicas e de Saúde Pública
- Anatomia Patológica, Citológica e Tanatológica
- Audiologia
- Cardiopneumologia
- Ciclo Básico de Medicina
- Ciências Farmacêuticas
- Ciências Farmacêuticas
- Ciências da Nutrição
- Ciências da Nutrição
- Ciências da Nutrição
- Dietética
- Dietética e Nutrição
- Enfermagem
- Enfermagem
- Enfermagem (entrada no 2.º semestre
- Enfermagem (entrada no 2.º semestre
- Ergonomia
- Farmácia
- Farmácia
- Farmácia
- Fisioterapia
- Fisioterapia
- Gerontologia
- Higiene Oral
- Higiene Oral
- Informação Médica e Farmacêutica
- Marketing Farmacêutico
- Medicina
- Medicina Dentária
- Medicina Dentária [Mest Integ]
- Medicina Nuclear
- Neurofisiologia
- Nutrição e Ciências Alimentares
- Optometria - Ciências da Visão
- Optometria e Ciências da Visão
- Ortoprotesia
- Ortóptica
- Podologia
- Prótese Dentária
- Prótese Dentária
- Radiologia
- Radiologia
- Radiologia
- Radioterapia
- Reabilitação Psicomotora
- Tecnologias da Saúde
- Terapêutica da Fala
- Terapêutica da Fala
- Terapêutica Ocupacional
- Terapia da Fala
- Terapia Ocupacional

Os cursos cujo nome repete são entre eles diferentes, ora porque são bacharelatos, ora licenciaturas, ora um "remix" e vira o disco e toca o mesmo!

Mesmo a área da saude temos diversas nomenclaturas para formar graduados na mesma coisa (mas nesta área poderás tu melhor do que eu aferir dessa realidade).

O que quiz deixar patente com a citação não foi que deveriam haver 3 cursos (Medicina, Economia e Estudos superiores do sexo feminino), mas sim que os mais de 1000 existentes não tem um pouco da homogeneidade que deveriam ter para não assistirmos a alguem que se diz licenciado (e o pode até ser) que não tem alguma da cultura geral ou dos conceitos gerais de algumas áreas que considero indispensáveis numa formação superior!

Por outro lado um rabo é um rabo e não precisamos de lhe chamar também traseiro, bunda ou pacote para perceber de que se trata um rabo, ou corremos o risco de se andar a dizer que há traseiros melhores do que bundas e pacotes bem mais jeitosos que traseiros ... quando no fundo ... são todos apenas ... rabos! :)

Eins disse...

No fundo, no fundo, tudo se resume ao seguinte: os homens do lixo, os trolhas e os camionistas de qualquer país não têm, normalmente, qualificações médias acima dos portugueses. E aí é que está o enviesamento. A formação, seja ela qual for, não está direccionada para as necessidades da economia.

Nós temos muito pouco daquilo que os outros países têm em abundância, no que à tipologia das profissões diz respeito. E por isso é que somos em média menos qualificados que os outros, mas cá dentro começa a haver "doutores" a mais.

César das Neves fala sem papas na língua, apesar do seu grau de instrução, e para percebê-lo há que entender isso. Por povo deve entender-se os menos qualificados, sem preconceito nem prejuízo. "Povo" existe em todo o lado, são os "não" doutores, e em muitas economias (como no nosso caso ainda) são peças fundamentais à sustentabilidade e ao crescimento. Não adiana formar (leia-se licenciar) indiscriminadamente. Não serve os propósitos fundamentais de melhoria da qualidade de vida, não beneficia o país tendo em conta a sua estrutura empresarial.

Do início ao fim, do analfabeto ao catedrático, todos têm um papel essencial, e não vai ser por atingirmos as taxas de licenciados do resto da Europa que vamos ser como eles. "A solução está na Educação". Pois está, mas não deve ser desconectada da realidade laboral. E não é a licenciar pessoal à toa que se vai mudar o tipo de empregos que temos. Não são leituras estatísticas sobre dados escolares que vão tornar o nosso país melhor, nem mais desenvolvido. O tecido comercial, industrial e terciário é que deve ir moldando as necessidades educativas, de formação e qualificação.

Então, Pedro:

Aí tens a ligação entre o texto postado e a citação usada. O mau uso das estatísticas dá nisto. "O número de licenciados em Portugal está aquém do resto da Europa". E daqui a uns anos "Portugal viu o seu número de licenciados aumentar em X%!!!". E depois? Maus cursos, má formação. Licenciados a mais. Serve de quê, se não precisamos deles, se não há quem os recrute?

Isto tudo num país que pode muito bem ter um 1º Ministro cuja licenciatura é no mínimo duvidosa... maior ironia era impossível.

Sónia Monteiro disse...

Apesar de tudo, de todos os progressos, a conclusão mantém-se: permanecemos numa sociedade de títulos!