sexta-feira, 30 de junho de 2006

«Ser simpático = Ser competente»

Chovem notícias de casos de violência escolar... Os professores são constantemente agredidos e ameaçados... Perde-se a noção do lugar que cada um ocupa numa Sociedade de Direito... Hoje, os professores, com medo de represálias, omitem ou escondem a maior parte dos casos de violência... Não foi esta a Escola que eu conheci! Há uns tempos atrás era totalmente incompreensível a possibilidade de um professor ser agredido ou insultado, quer dentro ou fora do espaço escolar. Bem pelo contrário, era perfeitamente aceitável que o professor desse uma bofetada a um aluno mais irrequieto.
Assisti a uma reportagem sobre a violência nas salas de aula e fiquei boquiaberta com os testemunhos que ouvi, sobretudo, da parte dos adolescentes. Para estes «estudantes», é condição sine qua none que um professor seja simpático, não é importante se é bom ou mau docente, tem é que ser simpático… Nem quero aqui divagar sobre o que para estes adolescentes significa “ser-se simpático”…
Inverteram-se os papéis! Quem, hoje, controla a sala de aula é, sem dúvida, o aluno, ou melhor, o jovem delinquente. “Se não gostamos do professor, castigámo-lo” – dizem-no em frente das câmaras, com algum orgulho inclusive. Temos vindo a assistir, a cada dia que passa, a um excesso de impunidade no lado dos alunos.
E qual o papel dos pais? Qual será? Por incrível que possa parecer, encontramos muitos a defenderem as “inocentes crianças” que têm em casa e, aliás, chegam mesmo a exigir que se expulse o professor que não compreende os problemas e os dilemas que uma criança enfrenta!
Encontramos, de um outro lado, pais que não controlam ou sequer conhecem os próprios filhos, que os abandonam aos cuidados das ruas e, se tiverem sorte, da escola. Assistimos, por conseguinte, a uma grande desresponsabilização por parte dos pais. Devem entender que a educação dos seus filhos é competência exclusiva da escola. E não esquecer que vão ser estes pais que vão avaliar os professores... Vão ser avaliados por quem nada sabe do que é leccionado... pura demagogia!
De facto, o que importa são as estatísticas, não é Sra. Ministra?
Talvez tenha razão, talvez o insucesso se deva aos professores e não aos pobres alunos que se estão lixando para o estudo, para as condições de ensino ou para o material didáctico... Não fazem trabalhos de casa porque estão cansadinhos, tiram negativas nos testes porque não lhes apetece pensar, trabalhos de grupo, pesquisas, ah isso implica muito esforço para os nossos adolescentes... De facto, a culpa só pode ser dos professores!

1 comentário:

Anónimo disse...

Além de concordar com tudo o que dizes, queria apenas acrescentar uma coisa que me chocou deveras: Será que ninguém se apercebeu da POUCA VERGONHA que foi o exame nacional de Língua Portuguesa do 9º ano?
Tive oportunidade de conversar com uma professora correctora desse exame que se disse «horrorizada» com a estrutura do exame, com os conteúdos, com a confusão dos critérios de correcção, entre muitas outras coisas inacreditáveis! Para completar, numa prova que se quer anónima, uma das questões consistia na redacção de uma carta (embora se convidasse os alunos a não assiná-la: mais uma contradição...).
Acho que o nosso ensino se está a degradar cada vez mais, e penso que caberia também aos senhores professores erguerem as suas vozes denunciando à sociedade em geral (às vezes um pouco alheada destas questões) situações como esta.
Em vez de se vestirem de preto e irem para a frente do Governo Civil (ou para além disso) podiam também insurgir-se contra a degradação do ensino.
Afinal ainda há quem confie neles... Eu, pelo menos, tenho muita consideração pelos que foram meus professores (pelos meus bons professores), em especial pelas minhas professoras da Escola Primária.