Que o interior está desertificado, esquecido e abandonado não é novidade para ninguém. O que não se esperava de um governo socialista é que, de régua e esquadro na mão, se dedicasse a encerrar uma parte inteira de Portugal que, por sinal, era já a mais carenciada a todos os níveis.
Nesta escalada, viu-se de tudo: desde o recurso a estudos encomendados para justificar tecnicamente decisões que se exigem políticas até ao recurso à justiça civil para impugnar decisões que, sendo políticas, não deveriam estar à mercê da justiça, fazendo jus ao princípio da separação de poderes.
Nas maternidades questiona-se a ponderação de uma medida que contraria tudo o que seria expectável num país que se quer fértil para combater o mais que evidente envelhecimento da população.
Nas escolas questiona-se o agrupamento das mini- em mega-turmas que contraria todos os estudos que apontam para uma relação entre a diminuição do número de alunos por aula e o aumento do sucesso escolar. Enquanto se avolumam as turmas, amontoou-se professores do “quadro” colocados administrativamente a fazer não se sabe o quê, quando poderiam estar a leccionar com grupos de alunos mais reduzidos.
Na justiça avizinha-se uma verdadeira revolução que retirará ao interior (sempre ao já sempre fustigado interior) muitos dos seus tribunais. Depois dos tribunais vai-se a polícia e a GNR. Depois das forças de segurança vão-se os médicos. Depois dos médicos vão-se as empresas (já quase inexistentes). E depois disso tudo vai-se a gente que não morreu entretanto.
Tudo em nome de um tecnocracia inconciliável com a democracia.
Tudo em nome de uma modernidade que não é, com toda a certeza, sinónimo de desenvolvimento.
Tudo em nome de uma execução orçamental que era irrelevante nos discursos de Sampaio e se tornou prioridade nas acções de Sócrates.
Pois que se feche essa metade Portugal que não interessa manter.
É melhor fechá-la de vez que andar a agonizá-la aos pedaços.
por Pedro Morgado
3 comentários:
Meu caro, embora possas estar a acertar em alguns pontos da exposição aqui feita, não me parece que seja de todo criticável algumas destas medidas... Porque ainda não me explicou o porquê da minha tia ganhar mais de 1000€ liquidos por mês durante quase 20 anos a dar aulas a menos de 10 alunos...e nunca nenhum deles chegou ao ensino superior sequer...não me parece que enquadrar alunos de meios rurais em tudo muito atrasados em ambientes mais desenvolvidos e culturalmente mais estimulantes irá prejudicar o seu aproveitamento, antes pelo contário... claro que o ideal era termos um professor por aluno, mas na ilha da utopia de Thomas More era tudo muito bonito mas nem computadores havia para se poder ter discussões destas :) Apresentei este exemplo por ser ilustrativo do rídiculo em que as críticas generalizadas por vezes podem cair, e por ser uma área a que estou por motivos pessoais mais próximo. paz *
Caro kordny,
Estarei porventura tão próximo (senão mais) do que tu dessa área :)
Estudei em escolas do interior.
Não defendo que deva haver 1 professor por aluno. Pela contrário.
Não concordo com professores colocados administrativamente quando poderiam estar a trabalhar com esses alunos das regiões mais deprimidas e ajudá-los a obter melhores resultados.
Se os alunos da tua tia nunca chegaram à universidade em 20 anos, talvez estejamos perante um case-study.
Há muitos alunos de aldeias recônditas como Cardanha, por exemplo, que chegam à universidade e mesmo a cursos com médias altas como Medicina.
O interior a fechar e, segundo as teorias de Al Gore no que concerne ao aquecimento global, a nossa costa a desaparecer a longo prazo... a pergunta que resta: o que há-de ser de Portugal?
Triste fado!
:)
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