O Estado "encornado"!

A notícia de ontem do JN que diz que, será concedido estatuto de clemência para quem denuncie a existência de práticas concertadas ou de acordos de associação de empresas (como cartéis), pode ser vista numa perspectiva matrimonial, em que duas pessoas apesar de terem uma relação conjugal com outra pessoa vivem praticando uma situação de adultério. O benefício para o indivíduo que, decida contar a verdade ao seu cônjuge numa situação análoga é o perdão e logo só será realmente proveitoso se já estiver farto do amante, ou se achar que estará na iminência de ser descoberto. E por outro lado o cônjuge que aqui é representado pelo Estado e pelos consumidores, já estará "encornado"! Assim sendo, não seria aqui mais correcta uma maior fiscalização por parte da autoridade da concorrência? A garantia de que não deixarão que os acordos de associação de empresas aconteçam da forma leviana como acontecem? Ou será que nunca foram de avião do Porto a Lisboa ou a Madrid? Se "desmantelar" alguns dos cartéis existentes (o que me parece difícil) com esta medida, aqui estarei para aplaudir, mas... custa-me pensar que vivemos num pais com um Estado "encornado"!