quarta-feira, 21 de outubro de 2009

E aqui como sempre uma má decisão ... é melhor do que nenhuma!

O Mundial é ibérico, as funerárias também
TGV e Mundial de futebol. Dois projectos conjuntos de Portugal e Espanha. O primeiro divide, o segundo une. Mas querer um sem querer o outro é uma quântica impossível.

A questão da nacionalidade não é um invento dos complexados. Ela é tangível mesmo no indiferente mundo dos negócios. Ser espanhol em Portugal ou português em Espanha pode desqualificar a oferta ou afastar a procura. Daí as frequentes tentativas de ocultar o rótulo.

A maior empresa de agências funerárias em Portugal é espanhola. É a Servilusa. Servi... lusa. A Aerosoles ou a Salsa, que a seu tempo investiram em Espanha, são portuguesas. Muitos espanhóis que bebem Compal nem sonham que a marca é portuguesa - e os donos da marca não mexem uma palhinha para contrariá-lo.

Não é preciso ser bruxo para prever que as propostas dos consórcios favoritos para o TGV, a "portuguesa" e a "espanhola" (embora ambas sejam "internacionais"), farão enredo de novela semelhante.

Serão mais as portuguesas que conhecem Esther Koplowitz das páginas da ¡Hola! que os portugueses que conhecem a FCC, que ela controla. Esta é a construtora espanhola que lidera o consórcio que apresentou o custo mais baixo para construir a Alta Velocidade ferroviária em Portugal. Hoje o Negócios revela porquê: por causa da proposta para a terceira travessia do Tejo. Fica de pré-aviso: o assunto não tarda a estalar polémica e até os argumentos mais mirabolantes serão usados dos dois lados. São-no sempre. Na disputa para o Metro do Porto, um consórcio chegou a dizer que as carruagens do seu concorrente não cabiam no túnel. Agora, a nacionalidade das propostas há-de ser arremessada. Mas não esqueça: o que interessa é a qualidade do projecto, a sua execução e o preço.

Já a ideia de propor a organização conjunta do Mundial de Futebol 2018/2022 na Península é das melhores coisas que já saíram da cabeça de Gilberto Madaíl e de Laurentino Dias. Desde que não se construam mais dez estádios ao lado dos elefantes de 2004, alguns mais brancos que a cal.

A distracção política que um Mundial propõe é um perigoso anestesiante. Mas um evento desses é um catalisador económico: como já provámos com a Expo e o Euro. E como as vitórias do Brasil para organizar o Mundial de 2014 e as Olimpíadas de 2016 vão ser um antes e um depois para o país.

Um Mundial de futebol tem a mesma grande vantagem que nos levou ao sucesso na Expo 98 e no Euro 2004: não podemos adiar. Se controlássemos as datas, em 2009 ainda estaríamos a discutir se valia a pena fazer o Euro 2004.

O problema maior do TGV ou do novo aeroporto não é o da má decisão, é o da indecisão. À falta de coragem para avançar ou para parar, arrasta-se. Os inventores da decisão perfeita esqueceram-se de nos dizer que ela é utopia. É preferível cancelar que suspender. Entre o sim e o não, o pior é o sopas.

Portugal não podia saber que o Brasil ia organizar o Mundial de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Mas se tivesse avançado com o aeroporto em vez de adiá-lo desta vez para 2017, teríamos pronta a infra--estrutura que poderia fazer desses eventos no Brasil um Euromilhões para a Ana e para a TAP, que tão boas rotas tem para o Brasil.

A julgar pelo passado, ainda nos arriscamos a ganhar o Mundial ibérico de 2018 e a não termos novo aeroporto para aterrar aviões dos turistas. Mas, claro, teremos sempre Barajas. De TGV é um pulinhoO Mundial é ibérico, as funerárias também
 
 

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