domingo, 23 de dezembro de 2007

Cidade Natal!


sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Numa noite fria de Dezembro, um Conto de Natal:

Ora entre Enganin e Cesareia, num casebre desgarrado, sumido na prega de um cerro, vivia a esse tempo uma viúva, mais desgraçada mulher que todas as mulheres de Israel.
O seu filhinho único, todo aleijado, passara do magro peito a que ele o criara para os farrapos da enxerga apodrecida, onde jazera, sete anos passados, mirrando e gemendo.
Também a ela a doença a engelhara dentro dos trapos nunca mudados, mais escura e torcida que uma cepa arrancada. E, sobre ambos, espessamente a miséria cresceu como bolor sobre cacos perdidos num ermo.
Até na lâmpada de barro vermelho secara há muito o azeite. Dentro da arca pintada não restava um grão ou côdea. No Estio, sem pasto, a cabra morrera. Depois, no quinteiro, secara a figueira. Tão longe do povoado, nunca esmola de pão ou mel entrava o portal. E só ervas apanhadas nas fendas das rochas, cozidas sem sal, nutriam aquelas criaturas de Deus na Terra Escolhida, onde até às aves maléficas sobrava o sustento!
Um dia um mendigo entrou no casebre, repartiu do seu farnel com a mãe amargurada, e um momento sentado na pedra da lareira, coçando as feridas das pernas, contou dessa grande esperança dos tristes, esse rabi que aparecera na Galileia, e de um pão no mesmo cesto fazia sete, e amava todas as criancinhas, e enxugava todos os prantos, e prometia aos pobres um grande e luminoso reino, de abundância maior que a corte de Salomão.
A mulher escutava, com os olhos famintos:
- E esse doce rabi, esperança dos tristes, onde se encontrava?
O mendigo suspirou:
- Ah esse doce rabi! quantos o desejavam, que de desesperançavam!
A sua fama andava por sobre toda a Judeia, como o sol que até por qualquer velho muro se estende e se goza; mas para enxergar a claridade do seu rosto, só aqueles ditosos que o seu desejo escolhia.
Obed, tão rico, mandara os servos por toda a Galileia para que procurassem Jesus, o chamassem com promessas a Enganim; Sétimo, tão soberano, destacara os seus soldados até à costa do mar, para que buscassem Jesus, o conduzissem, por seu mando, a Cesareia. Errando, esmolando por tantas estradas, ele topara os servos de Obed, depois os legionários de Sétimo. E todos voltavam, como derrotados, com as sandálias rotas, sem ter descoberto em que mata ou cidade, em que toca ou palácio, se escondia Jesus.
A tarde caía. O mendigo apanhou o seu bordão, desceu pelo duro trilho, entre a urze e a rocha. A mãe retomou o seu canto, a mãe mais vergada, mais abandonada. E então o filhinho, num murmúrio mais débil que o roçar duma asa, pediu à mãe que lhe trouxesse esse rabi que amava as criancinhas, ainda as mais pobres, sarava os males, ainda os mais antigos. A mãe apertou a cabeça engelhada:
- Oh filho! e como queres que te deixe, e me meta aos caminhos, à procura do rabi da Galileia? Obed é rico e tem servos, e debalde buscaram Jesus, por areais e colinas, desde Chorazim até ao país de Moab. Sétimo é forte e tem soldados, e debalde correram por Jesus, desde Hébron até ao mar! Como queres que te deixe? Jesus anda por muito longe e nossa dor mora connosco, dentro destas paredes e dentro delas nos prende. E mesmo que o encontrasse, como convenceria eu o rabi tão desejado, por quem ricos e fortes suspiram, a que descesse através das cidades até este ermo, para sarar um entrevadinho tão pobre, sobre enxerga tão rota?
A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou:
- Oh mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar!
E a mãe, em soluços:
- Oh meu filho como te posso deixar! Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce rabi. Oh filho! Talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e os fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes.
De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:
- Mãe, eu queria ver Jesus...
E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:
- Aqui estou.
Eça de Queirós, "O Suave Milagre".

Pitões das Júnias!


"Não desejo ao meu maior inimigo a incapacidade expressiva que se apodera de mim diante de certas paisagens do mundo."
Miguel Torga


De volta a casa ...

Foto roubada ao Miguel Angelo

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Combate ao Crime em Regime de Voluntariado

"Segundo informou (...) a Associação Sindical dos Funcionários de Investigação criminal, o Ministério da Justiça apoia-se em duas decisões judiciais, segundo as quais o trabalho da PJ entre as 20 e as 8 horas não tem que ser pago. Combate ao crime em Portugal só, pois, nas horas de expediente. Quando, como aconteceu agora no Porto, a PJ precisa de actuar entre as 20 e as 8 fica dependente de conseguir ou não arrebanhar inspectores que não tenham nada que fazer nessa noite e se disponham a trabalhar e a pôr a vida em risco de borla. "

"Por outras palavras, Manuel António Pina" no JN

Agora é só concertar esforços com a Associação Sindical dos Funcionários do "Banditismo", para que concentrem o seu expediente no mesmo período de tempo e aguardem, pelo menos, até quinze minutos depois das oito da manhã para que sejam detidos em casa, quando a situação o justificar.
É de facto (cada vez mais) banal assinar contratos de oito horas, pagos na proporção de cinco e em que se trabalham efectivamente doze.
Claro que tudo isto está sujeito à livre vontade de cada um(o que acontece normalmente devido à forte concorrência existente no mercado de trabalho).
Contudo, quando falamos de justiça não nos podemos dar a esse tipo de veleidades se queremos garantir o desenvolvimento do país e das suas instituições.

"Esse é um dever dos nossos Governos, e terá de ser uma exigência dos portugueses, todos os dias."

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Love Generation?! No! Light Generation!!

Por Cristina Sousa

Virgens suicídas… ups! assumidas! Hmm… confusas?!


Pois é, o que está a dar por terras do Tio Sam são mesmo os “bailes de pureza”, bailes em que raparigas dos 9 aos 16 anos juram virgindade até casarem.
Nestas pomposas cerimónias, as raparigas fazem, então, o juramento a Deus de se manterem castas, sendo que também os pais (os homens) também “se comprometem a manterém-se fiéis, honestos e íntegros” para com as mães das crianças e a afastarem-se dos pecados carnais.
A cerimónia termina com os pais a ofereceram às filhas um “anel de pureza” ou uma “pulseira de castidade”, que será entregue aos maridos na noite de núpcias.
Criados em 1998, pelo ministério religioso Generations of Light, no Colorado, estima-se que, só em 2006, tenham sido realizados cerca de 1500 bailes em 48 estados americanos.
O sucesso desta última moda entre os cristãos conservadores norte-americanos é tal que até já extravazou as fronteiras, havendo listas de espera para a organização de bailes na Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido.
Quem defende a castidade entre os jovens é George Bush. Inclusivamente, foi criado, pela Casa Branca, um gabinete de Iniciativas Baseadas na Fé, para apoiar eventos do género.
Só em 2007, foram atribuídos 180 milhões de euros à campanha a favor da abstinência sexual! Isto num dos países desenvolvidos que, segundo os últimos dados, apresenta uma maior taxa de incidência do HIV. A abstinência não deixa, de facto, de ser uma medida possível para evitar a transmissão do vírus, mas, não haverá métodos mais eficazes??
[1]
Apesar disso, segundo um estudo feito em 2005 pelas Universidaddes de Columbia e Yale, 88% das jovens que juraram manter a castidade até ao casamento não o cumpriram.
Bom, como é da praxis, é fazer as contas! Se tratam assim as jovens como mercadoria que deve ser conservada intacta até ao casamento, fazer o quê? Mas perante os números, se calhar atrever-me-ia a sugerir que as colocassem numa redoma…


[1] Admito que possa haver aqui um certo conflito de interesses: por um lado, religiosos, por outro, de saúde pública… Como resolver a questão sem sacrificar totalmente um deles? Impossivel, diria eu mas se há uma coisa que fica sempre bem e ajuda é o bom senso…

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

[Pausa]


Com um brilhozinho nos olhos

e a saia rodada

escancaraste a porta do bar

trazias o cabelo aos ombros

passeando de cá para lá

como as ondas do mar

conheço tão bem esses olhos

e nunca me enganam

o que é que aconteceu diz lá

é que hoje fiz um amigo

e coisa mais preciosa no mundo não há.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Jogos de Poder

SERGEI MARKOV
Russian politician, after former Gazprom chairman
Dmitry Medvedev was anointed as Putin's preferred successor on Dec. 10

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Hermenêutica Jurídica não é desculpa para tudo!!!

Câmara paga despesas judiciais de autarcas e ex-autarcas com base em parecer de jurista de Coimbra. A Câmara de Felgueiras está a pagar as despesas judiciais de autarcas e ex-autarcas com base num parecer do jurista de Coimbra, Mário Rui Marques de Carvalho, emitido a pedido de António Pereira que substituiu Fátima Felgueiras durante dois anos.

Fátima Felgueiras disse, a propósito, à Lusa que se os jornalistas «perguntarem por esse país fora, verão que todos os municípios procedem de igual forma ...

... Aquele professor da Universidade de Coimbra sustenta que o pagamento de advogados e custas processuais é legal «quando o processo tenha por causa actos praticados por um autarca no exercício de funções para que foi eleito» (...) As verbas, «apenas terão de ser restituídas, se vier a ser provado, por decisão ou sentença transitada em julgado, que actuou com dolo ou negligência grave»

Alguns juristas têm, no entanto, outro entendimento, (...) «Tais despesas não decorrem directamente do processo, mas de um comportamento do eleito perante a justiça», disse hoje à agência Lusa o especialista em Direito das Autarquias Locais António Cândido de Oliveira.
... O pagamento de despesas pelas autarquias que resultem, por exemplo, de desrespeito por um mandado judicial de captura e das consequências que daí directamente resultem, não está no âmbito da lei que regula o estatuto dos eleitos locais.«É algo que está ligado ao seu comportamento como cidadão e não à condição de eleito local».
Também contactado pela Lusa, o constitucionalista Bacelar Gouveia considera que a norma legal que confere apoio aos autarcas, caso não seja provado dolo ou negligência, não se aplica na íntegra ao caso Felgueiras, embora admita que possa ser dúbia.
«É uma questão penal, ela não está a ser julgada como presidente de câmara. É como pessoa», afirmou. (...) Seria imoral que os eleitos tivessem direito a pagamento de todas as despesas quando sujeitos a processos.«Se fosse assim, então um presidente de câmara que matasse uma pessoa ainda tinha direito a um advogado?»
(...) Bacelar Gouveia destacou que Fátima Felgueiras está a ser julgada por crimes de corrupção. «Não exerceu funções em nome do município. Exerceu esses actos para benefício próprio»..."

FONTE: http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=70094

Filhos de um outro Deus

"O padre de Campo, Couto, Roriz e Tamel S. Fins, em Barcelos, vai deixar de dar os sacramentos e privar o acesso a todos os bens, movimentos e serviços (missas de sufrágios, catequese, atestados) naquelas quatro paróquias aos fiéis que não estejam inscritos nem tenham pago a côngrua (um dia do salário mensal) até ao próximo dia 23. O aviso, lançado no boletim paroquial e no fim da missa dominical, "sustenta-se no que diz o direito canónico e a Conferência Episcopal", realçou Avelino Castro, de 29 anos e sacerdote desde 2006."
Depois de tanto se falar da qualidade do ensino em Portugal, esta notícia sobre um Padre recém-formado, faz-me pensar se as coisas andarão melhor nos nossos Seminários.
Infelizmente, a Igreja em Portugal também tem "destas coisas".

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Quem é que se anda a portar mal, ah?!

"Um sismo com a magnitude de 5.4 estremeceu esta sexta-feira a ilha de Bali, onde mais de dez mil pessoas se encontram a participar na conferência sobre as alterações climáticas, avança a CNN"

Parece que a "mãe" natureza se zangou com alguém ...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Associação Académica da Universidade do Minho: Os Poetas do Costume

Foram 85 por cento, sim, mas isso apenas mostra que “as pessoas estão satisfeitas com o trabalho que a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) tem vindo a desenvolver”, indicou Pedro Soares à imprensa, logo após a divulgação dos resultados eleitorais.

É a chamada "Democracia Poética".
*

Boa sorte para mais um mandato!

“As pessoas novas trazem sempre ideias inovadoras e ajudam-nos a crescer”.

Ora ai está: pessoas novas. É precisamente disso que a AAUM precisa.

* - A poesia, ou género lírico, ou lírica, é uma das sete artes tradicionais, através da qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

30 de Novembro de 2007: Novo Bastonário!


Surpreendentemente Belo!


Por Cristina Sousa


BALLET: A BELA ADORMECIDA
ÓPERA ESTATAL DE BASHKIR

Na passada semana tive a oportunidade de assistir ao bailado da Bela Adormecida, no Theatro Circo. Fiquei encantada! Aquele brilho e esplendor das frágeis bailarinas, os passos e corridas em bicos de pés, a música de Tchaikovsky… Um espectáculo majestoso, sem dúvida!

Estreado pela primeira vez em S. Petersburgo a 3 de Janeiro de 1890, A Bela Adormecida é reveladora de uma sociedade russa que constituía não só o maior país europeu, em termos populacionais, mas também o maior país no que se referia à dança. Aliás, era o país da dança. Para marcar todo esse auge em que a Rússia se encontrava, impunha-se a criação de um espectáculo o mais perfeito possível, que maravilhasse qualquer um que o visse, não só pelas suas proezas técnicas mas também pela riqueza dos figurinos, dos cenários, coreografias, músicas…
A Bela Adormecida era tudo o que a sociedade da época esperava ter: um conto de fadas, com muita riqueza, longe das guerras, onde a magia transforma o mal no bem e onde este sempre vence.
Marcando o primeiro encontro entre Marius Petipa e Piotr Illitch Tchaikovsky é, ainda hoje, um dos ballets mais apreciados no mundo e é considerada o exemplo mais puro do Bailado Clássico.


Ballet em três actos, cinco cenas e prólogo
Libreto: Marius Petipa e Ivan Vsevolojsky, baseado num conto de Charles Perrault
Coreografia: Marius Petita
Música: Tchaikovsky


Apesar da fraca qualidade, aqui fica um cheirinho do espectáculo:
http://www.youtube.com/watch?v=-h3NU3zREhk

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Outra vez: o perigo dos rótulos!

Nos tempos que correm, numa sociedade dita liberal, é vulgar sermos rotulados e rotularmos aqueles que nos rodeiam! Não será isso perigoso e castrador da individualidade e identidade?

Mas qual «geração rasca»?

Este fim-de-semana tive uma experiência social bastante enriquecedora, que me permitiu reflectir nalgumas "sentenças" que são proferidas "de cor" e porque "toda a gente assim o diz".
Ora, a expressão "jovens, geração rasca" é, hoje, na minha opinião, uma frase precipitada e completamente desfasada da realidade.
No contacto que, este últimos dias, pude ter com a sociedade em geral, desde crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, apercebi-me que os jovens são bastante mais sensíveis aos problemas da sociedade e às aqueles que vivem marginalizados, bastante mais atenciosos para com aqueles que os abordam e, sobretudo, mais educados.
Então, questiono: quem é afinal a tal "geração rasca"? Será que existe de facto? Ou será mais uma forma que nos desligarmos das responsabilidades que temos para com a sociedade, o meio onde vivemos? E, por sua vez, deslocarmos as "culpas" para os outros?
Sim, concordo que os jovens vivem hoje uma inércia que, de algum modo, se revela preocupante. Mas serão eles os únicos responsáveis? Não será, também, verdade que os outros, "os menos jovens", não se apercebendo dos "sinais do tempo", não conseguem compreender e cativar a juventude? Não estarão as instituições desgastadas, ultrapassadas, algumas quase moribundas e outras "apodrecidas"?
Dá que pensar!