Mais uma vez a religião é tema de debate na comunicação social e na praça pública. O assunto ora em destaque prende-se com o facto de o Ministério da Educação, dando cumprimento ao princípio constitucional da laicidade do Estado, e a uma série de preceitos daí decorrentes, ter mandado retirar os crucifixos de algumas escolas, devido a queixas de alguns encarregados de educação que se sentiam incomodados com a imagem do Crucificado.
Como referi, esta situação tem gerado as mais diversas reacções na sociedade portuguesa, dos mais variados quadrantes. Pretendo aqui debruçar-me sobre um ponto em particular.
Na verdade, tenho ouvido alguns católicos insurgirem-se contra a retirada dos crucifixos pelo simples facto de este fazer parte da nossa cultura, tal como as Cinco Chagas presentes na bandeira, além de numerosos símbolos religiosos que proliferam nas nossas praças e caminhos… Neste ponto, todavia, não posso de deixar de discordar com a sua justificação. Tal como eles também eu sou contra a retirada dos crucifixos. E sou contra porque considero que os símbolos religiosos devem estar presentes nas nossas escolas, nos nossos locais públicos, nos nossos empregos. Os crucifixos, ou qualquer outro símbolo religioso que lembre àqueles que são crentes que não devem ter vergonha da sua fé, quer se encontrem na Igreja, em casa, no trabalho, no estudo.
Concordo que o Estado deve ser laico, que a Igreja não se deve imiscuir no poder político (e vice-versa); defendo a clara separação entre o poder temporal e o poder espiritual. Contudo, esta pretensa laicidade não se pode impor nos nossos estabelecimentos de ensino. Em lugar de banirem a religião destes locais, devia procurar-se fazer uma plena integração das diversas culturas e religiões (onde tal se justifica) para que todos pudessem viver a sua religião.
Sei que muitos cristãos não têm consciência disso, mas a nossa religião não é para ser vivida ao domingo dentro de uma Igreja. Quem frequenta a Eucaristia dominical sabe, com certeza, que o sacerdote na homilia não fala para aquele momento apenas; faz sempre um convite a pormos em prática a Palavra de Deus ao longo da semana. Eu próprio, numa catequese que fiz a propósito da presença de Jesus no ambiente de trabalho, dizia a um grupo de adolescentes do 9º ano que não nos podemos resumir a uma sala de catequese e que devemos tornar Jesus presente nas nossas escolas. Sei que não é o crucifixo que O irá por si só tornar presente… Mas seria com certeza uma ajuda; pelo menos ao olharmos para Ele podia ser que tivéssemos outra atitude... Será que iremos chegar ao ponto de não podermos professar e expressar livremente a nossa religião?
Há, efectivamente, um conjunto de pessoas e movimentos na nossa sociedade que pretendem banir a religião. Penso que já deviam ter visto que isso não é possível. Pena é que, em favor de uma suposta liberdade religiosa, se ocupem com constantes lutas contra a Igreja Católica. Se calhar porque ela consegue fazer-lhes sombra e sentem-se incomodados.
Como há dias li no jornal Diário do Minho, talvez gostassem que pusessem lá a fotografia deles, como exemplo dos (des)valores que a nossa sociedade pretende cultivar; ou então um poster dos “DZR’T”…
posted by JMS
domingo, 11 de dezembro de 2005
A "Cruz" do nosso País
Publicada por Sónia Monteiro à(s) 2:56 da tarde
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5 comentários:
Caro JMS, ao contrário do que me disseste, conseguiste exprimir muito bem a mensagem que tem que se fazer passar num momento em que "forças" e "vozes" se levantam contra a religião e a Igreja Católica!
Caro João:
A Escola faz parte do Estaqdo, e como tal deve ser laica.
A Cruz deve ser retirada, ela como qualquer outro símbolo religioso.
A religião é, a meu ver, pertença de cada indivíduo e deve ser ele a transportá-la.
Quem quiser viver a sua religião fora da igrja ou das salas da catequese, que o faça, mas que não o imponha a quem nela não se revê.
Quem quiser que carregue a cruz, que viva com esse icone da sua religião, agora que não o imponha aos outros.
Retirem-se os crucifixos, os quartos crescentes e as estrelas. Quem os quiser que os traga, junto ao seu corpo, à mostra mas que sejam um dos seus pertences, e nunca do Estado, que é, como tão bem o afirmaste, laico.
Caro Pedro Teles:
Se a maioria dos portugueses são católicos, porque é que uma minoria de ateus (alguns dos quais ocupam cargos políticos) quer impor aos outros a sua vontade? Já pensaste no que sucederia se a minoria de muçulmanos existente em Portugal se lembrasse agora de querer impor a sua cultura e os seus costumes?
Tenho um profundo respeito pelas minorias; considero que lhes devem ser concedidas iguais oportunidades e que todos devem ser respeitados como pessoas que são.Mas penso que as minorias devem também respeitar a maioria; só assim é possível vivermos em sociedade.
Já agora coloco uma questão: porque é que a religião deve ser proibida nas escolas, mas as campanhas anti-religiosas não o são?
João Silva
João, a questão não está em impôr aos outros a sua vontade, sendo a maioria católica nunca lhes vais impôr nada, é um fenómeno religioso-cultural que não se consegue mudar com uma simples retirada dos crucifixos das escolas. Para evitar situações como a que tu referes (em relação aos muçulmanos) é que se pretende que o Estado seja laico e não faça qualquer referência a algum grupo religioso. Temos de nos lembrar que a laicização do Estado não surgiu porque alguém se lembrou que seria bonito, esta questão já tem séculos. É tão velha como a própria organização do Estado! Depois alguns iluminados, por volta do crepúsculo do séc.XVIII, lembraram-se que seria bom acabar com a promiscuidade que havia entre os poderes temporal e espiritual, porque alguém poderia estar a recolher vantagens à custa disso. A laicização do Estado resume-se, num primeiro plano, a isso (pelo menos a meu ver), acabar com os aproveitamentos de alguns por parte da influência que têm sobre certos sectores da sociedade (no nosso caso, o sector católico). Num segundo plano ( e acho que é esse que se discute actualmente, acho que o primeiro, felizmente já foi ultrapassado)é a questão do Estado respeitar a liberdade de cada um, e assim não exibir nenhum símbolo religioso que possa ofender a crença de cada um. Há que salientar que esta ideia, além de salvaguardar a liberdade religiosa de cada um , permite que não regressemos à promiscuidade que existia entre os dois poderes atrás referidos. Assim, e a meu ver, deve-se separar a religião do Estado. De um lado temos a religião que deve ser vivida no plano individual, e consequentemente no plano social, de um outro lado temos a organização político-administrativa que deve ser isenta, servir a todos e não há alguns (mmo que esses alguns sejam muitos). Só assim podemos alcançar uma sociedade mais tolerante e mais democrática.
Apesar de o assunto dos feriados ser referido num post posterior, aproveito para fazer aqui a referência ao assunto.
João, se o país é maioritariamente católico não podemos descurar as suas épocas festivas. É quase certo que se esses não fossem respeitados pelo Estado, os católicos iriam na mesma respeitá-los. Assim teríamos um país na sua grande maioria parado. Teríamos linhas de montagem a meio gás, porque o chefe estava a festejar o evento religioso, um dos operários também, mas outro que é jeová já não o estava a festejar. Isto é um exemplo que pode parecer quase absurdo, mas que espero que seja ilucidativo. Com isto não quero dizer que não haja indivíduos que não se aproveitem da situação, parasitas há-os em todo o lado.
Grande abraço
JAMC, desde já obrigado pelo teu comment e por lançares aqui uma questão que considero importante: o que se entende por laicidade?
Dizes tu que a laicidade tem dois planos essenciais e que o segundo plano, ora em discussão, «é a questão do Estado respeitar a liberdade de cada um, e assim não exibir nenhum símbolo religioso que possa ofender a crença de cada um.» Permite-me que discorde daquilo que dizes.
Não é, com efeito, esse o meu ponto de vista acerca da laicidade. Considero, na verdade, que o Estado não deve professar qualquer religião nem privilegiar nenhuma em detrimento de outras. Mas deve, por outro lado, dar oportunidade a que todos possam professar livremente a sua fé, inclusive nas escolas e nos locais de trabalho. O Estado não deve ser contra a religião, não deve ver a religião como um inimigo mas deve, tendo em conta critérios de razoabilidade e proporcionalidade, procurar fazer uma integração das diversas religiões. Essa integração poderá passar pela introdução de outros símbolos religiosos (sempre dentro de critérios de razoabilidade) nas escolas e locais de trabalho, onde tal se mostrar necessário. Essa, sim, é, para mim, a verdadeira liberdade religiosa!
Dizes ainda que a religião deve ser vivida num plano individual. A minha não é, nem pode ser. A minha religião, a religião católica, só faz sentido se for vivida em comunidade, sem no entanto a impor a ninguém. Zé, as coisas já aconteceram e nunca se sabe se podem voltar a suceder. Na 1ª República, com o argumento de que a religião é uma coisa individual, perseguiam-se as manifestações públicas de Fé (nomeadamente as procissões), porque ofendiam aqueles que professavam outra religião ou que não professavam nenhuma. Hoje, felizmente, podem fazer-se procissões livremente, em locais públicos. Será que de futuro, em nome de uma suposta liberdade religiosa, certos grupos de pessoas não se sentirão ofendidas e não quererão proibir este tipo de manifestações?
Penso que a laicidade do Estado, ou seja, da organização político-administrativa de que falas, deve ser entendida de uma forma positiva e não negativa; isto é, em vez de se afastar a religião da vida político-social, dever-se-á criar condições para que todos posam viver e professar livremente a sua religião, individualmente ou em comunidade, isto porque o ser humano é um ser religioso, tal como é um ser social, um ser político… Assim o Estado permitirá que se respeite a liberdade de cada um, sem que ninguém fique ofendido.
Quanto à questão dos feriados, gostei do exemplo… Mas também só a coloquei para mostrar que efectivamente a religião católica faz parte da identidade do povo português e que, como tal, deve ser respeitada. Porém, como sabes, ainda hoje há certos grupos na sociedade (como em outros tempos!) que pretendem negar essa matriz católica da sociedade portuguesa. É para eles, aquele post.
Dizes bem, «parasitas há-os em todo o lado» pois também o número daqueles que se dizem católicos não corresponde, na verdade, ao dos que encontras nas igrejas nesses dias feriados…
Um grande abraço!
João Silva
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