segunda-feira, 27 de março de 2006

"China afirma que exportações têxteis beneficiam União Europeia e Estados Unidos"

in "O Público"


Ora a natureza simples (e nada tendenciosa) desta afirmação, decorre de uma análise feita exclusivamente à diferença de preços e à "suposta" poupança que dai advém para os consumidores. Ora resumidamente, há pelo menos duas questões essenciais que fazem desta afirmação, uma (enorme) fraude...

1º - A China compete com países como Portugal, ignorando alguns dos Direitos Humanos mais básicos. Neste contexto a palavra concorrência, ganha a sua forma mais perversa.

2º - O facto de os têxteis entrarem a preços mais baixos, faz com que a procura dos "nossos" têxteis diminua, as empresas diminuem o volume de vendas, fecham e os consumidores/desempregados neste cenário nem para os têxteis chineses têm rendimento suficiente.
... e pensava eu que nós é que achávamos os chineses lerdos!

19 comentários:

Sónia Monteiro disse...

Duas conclusões que eu subscrevo totalmente.

Eins disse...

Hélder, a 2ª questão não é bem como a pintas... revê os teus conceitos de comércio internacional. Nomeadamente o de vantagens comparativas. E o facto de, se o comércio puder fazer com que os bens se produzam (apenas) onde são mais eficientes, e os recursos, nos outros países, se apliquem às suas vantagens comparativas, todos ficam a ganhar. O problema está na vantagem comparativa chinesa, como referes na 1ª questão, essa sim, essencial e para mim suficiente para bloquear as facilidades comerciais com a China. Não é assim que devemos deixar o comércio e a indústria serem dominados por um novo paradigma. Se os EUA conseguiram ser uma superpotência nesses campos e exportar o seu modelo pelo mundo fora, a China também o conseguirá, se o deixarmos. Aí, sim, a única forma de subsistência é incorporar o modelo chinês. Devias ter reforçado isso na 1ª questão. Não só eles vencem, como obrigam os outros a ser como eles.

O mundo não quer viver na miséria!

HMAG disse...

A questão das vantagens comparativas, felizmente ainda não se apagou da minha cabeça e é claro que a especialização dos países em sectores onde detêm vantagens comparativas gera ganhos globais. Neste caso a questão tem que ver com o facto de Portugal não poder nem competir com países como a China(1º ponto), nem criar um novo paradigma de especialização e exportação num curto período de tempo, em parte imposto pela entrada da China na OMC e consequentemente pela (feroz) entrada dos seus produtos nos mercados dos países da UE(portugal incluido, claro!). Impunha-se aqui uma outra questão, do paradigma vigente em Portugal e da necessidade de passar para um outro "estádio", essa sim pertinente e importante para o futuro do nosso pais, mas não será este o post mais indicado para pegarmos por aí ... Fica (mais uma vez) feito o convite de escreveres ... e já tens tema! ;)

Eins disse...

Não me obrigues a voltar a estudar, pá, que não tenho tempo. A ideia que eu rebati no teu post foi a ideia de que o fim da indústria têxtil é necessariamente mau para Portugal e até para a China porque há menos rendimentos para lhes comprar os produtos. Isso pode não ser verdade. Num sistema comercial perfeitamente integrado, seria sempre preferível assim, sendo que os recursos (humanos e de capitais) dispendidos no sector têxtil seriam redireccionados para outros sectores comparativamente melhores. Manter-se-ia a indústria têxtil de excelência na qualidade, que não compete via preços.

O problema é a forma como a China "ganha" competitividade. E essa forma, aliada à brutalidade de mão de obra qualificada e não qualificada que eles têm (e são mais que as mães... muito mais!) permite-lhes vantagem em qualquer sector. O que te elimina o conceito de vantagem comparativa, porque não tens nenhuma. Daí eu ter dito que, no caso das relações Mundo-China, deixá-los "ser" implica ser dominado por eles. E as implicações disso são terríveis, porque para poderes (sobre)viver terás que ser como eles.

O boicote à produção chinesa dificilmente será um boicote das instituições. A globalização já não o permite. Terá que ser o indivíduo, enquanto agente económico, nomeadamente enquanto consumidor, a impedir que o paradigma chinês se torne num caso de vida ou morte para nós.

Se quisermos manter um nível de existência minimamente digno, não compramos produtos chineses!!!

Anónimo disse...

Está na hora dos nossos governantes parar para pensar na população em geral e não em alguns cidadãos....

Raquel disse...

Just dropping by to say hello, greetings from USA.

roque disse...

Meu caro, pensas que a roupa espanhola das Zara e Pull & Bear é feita em que condições? POrque é que não se queixam dessa?

roque disse...

Para não falar dos subsídios por parte do Governo Chinês que permite a sobrevivência de todos esses bazares chineses em POrtugal. A única exigência é a venda única de produtos chineses.

Eins disse...

Estás a falar das condições que a Zara dá aos seus funcionários, ou da proveniência da sua roupa ou partes dela?

HMAG disse...

Eins, concordo que realmente portugal deveria redireccionar os recursos para outras fases do mesmo processo produtivo, ou para outro tipo de processos de maior valor acrescentado. A questão é que não temos qualidade ao nível da mão-de-obra não permite essa mobilidade e por vezes também o capital é entrave. Em realação à vantagem da China que advém da abundância de mão-de-obra é realmente uma arma muito poderosa, mas principalmente porque se alia à exploração do trabalhador e à precaridade das condições de trabalho. O bloqueio deveria ser institucional, porque tanto tu como eu sabemos que, ter a maioria dos consumidores com informação perfeita e racionalidade(aqui ser racional será perceber o porquê do boicote por exemplo) só nos modelos. Mas a sugestão de boicote era uma medida interessante, dado que ao comprarmos produtos chineses não nos lembramos das violações de direitos humanos implicitas ao produto, tal como os nossos governantes não se lembram disso quando apertam a mão a governantes chineses.

Roque, desconheço os casos que citas, mas a verdade é que se essas empresas utilizam os mesmos meios, não é em Espanha mas em países cuja legislação o permite ... como a China! Podemos não gostar da postura das empresas em relação ao lucro, mas é esse o seu objectivo último ao contrário dos governos. Se bem que o termo "responsabilidade social das empresas" começa a emergir em Portugal ... ainda que lentamente!

Anónimo disse...

Pelo que entendo deste 'post', o Comercio Internacional so' e' vantajoso se pudermos comprar produtos a um preco mais elevado do que o custo de producao em Portugal.
E' esta a ideia? Para beneficiarmos do Comercio Internacional devemos pagar mais caro?

Eins disse...

HMAG:
Se o comércio internacional funcionasse como nos modelos, o sector têxtil já tinha sido pulverizado há muito. Quanto à China, eu gostava que não lhe déssemos hipótese de pulverizar este nosso sector pouco eficiente. A subsistência deste sector, neste caso, significaria uma causa ganha.

LA-C:
Não. As condições em que o comércio internacional é vantajoso são, no caso chinês, distorcidas pela forma como "aparentemente" beneficiamos do comércio internacional por comprarmos produtos mais baratos. Mas o comércio internacional devia ser bom para todos. Só por curiosidade, se fosses um dos centenas de milhões de "enfileirados" que trabalham 16 horas por dia com 2 ou 3 dias de férias por ano, qual a seria a tua opinião acerca do comércio internacional?

E não pensar nisto é ser mais irracional do que comprar produtos mais caros só porque nos apetece ser burros...

Anónimo disse...

Eins
Dois pontos, primeiro se estamos a falar EGOISTICAMENTE apenas das vantagens que temos em comprar produtos estrangeiros, o que conta para nos e' o preco que pagamos e nao a forma como o bem e' produzido. Donde, epito a pergunta, se e' desvantajoso para nos comprarmos produtos mais baratos, posso conlcuir que se comprarmos mais caro e' melhor para nos?

Em relacao a' segunda parte da questao, passamondo de um patamar egoista para um altruista, ou seja pensando nos direitos humanos e nas condicoes de trabalho na China e em outros paises... Sobre esse assunto ja' escrevi aqui. Pode por exemplo ver aqui:
http://www.jornalnordeste.com/noticia.asp?idEdicao=97&id=3283&idSeccao=849&Action=noticia

Anónimo disse...

Repito o que escrevi pois escrivi com demasiadas gralhas.

Eins
Dois pontos, primeiro se estamos a falar EGOISTICAMENTE apenas das vantagens que temos em comprar produtos estrangeiros, o que conta para nos e' o preco que pagamos e nao a forma como o bem e' produzido. Donde, repito a pergunta, se e' desvantajoso para nos comprarmos produtos mais baratos, posso concluir que se comprarmos mais caro e' melhor para nos?

Em relacao a' segunda parte da questao, passando de um patamar egoista para um altruista, ou seja pensando nos direitos humanos e nas condicoes de trabalho na China e em outros paises... Sobre esse assunto ja' escrevi. Pode por exemplo ver aqui:
http://www.jornalnordeste.com/noticia.asp?idEdicao=97&id=3283&idSeccao=849&Action=noticia

Anónimo disse...

Bolas para as gralhas!

LA-C

Kordny disse...

ia dizer qq coisa mas eskeci-me..so 1 minuto..o mercado global esta longe de ser 1 realidade, e n m parece k considerar as variaçoes de bem estar a um nivel mundial sirva de grande coisa ou seja vantajoso em qq aspecto para um pais como o nosso. mas ainda percebo pouco disso, isto de andar no 2º ano tem destas coisas. quanto aos direitos humanos, nao me parece necessario um boicote a nivel estatal..alguem se lembra do que aconteceu antes da independencia de timor? dei por mim e muita gente a nao comprar certos produtos so por ter uma etiketa "made in indonesia"..o problema e k os produtos chineses sao + baratos, e aki o ze tuga so se preocupa co seu umbigo nas proximas 3 semanas, o resto logo s ve =) por isso mesmo que o boicote, embargo ou kk outra coisa parecida se imponha, a meu ver, mesmo que o nao façam uma campanha de sensibilizaçao poderia surtir um certo efeito, mesmo que em menor escala. é a tal coisa. pode ser pouco, e entao ja n serve a ng. mas tv seja mais um mes com dignidade pra meia duzia de familias... peace [] e n m respondam como s m atacassem k eu tou aki p gosto, n m apetece xatear ninguem (=

Eins disse...

Kordny:
A questão da Indonésia é pura solidariedade. Digo isto no sentido positivo, porque é uma forma legítima de protesto. Mas não é comparável à questão que aqui se discute.

Neste caso, há outra racionalidade para o fazer. Não é só a pensar nos outros, é a pensar em nós. Se deixarmos entrar a produção chinesa em força, imitar os seus "modos" já não se tratará de concorrência, mas sobrevivência.

LA-C:
Pegando no meu último parágrafo, digo-te que é muito restritivo pensares que, mesmo sendo egoísta, só meço o benefício do meu consumo pelos recursos que dispendo. A verdade é que o consumo destes bens representa o fim último da superprodução chinesa. Eles têm volumes de produção brutais, para exportar, logo é devido a essa exportação que os trabalhadores têm as "regalias" que têm. O problema é que eles são muitos. Tantos que chegam para quase todos os outros. Então como produzem ao dobro, devem valer mais de metade da capacidade produtiva mundial. Se alimentarmos a sua exportação, eles vão tornar-se mais fortes, mais produtores, e mais exploratórios. E nós teremos que ser como eles, senão tudo o que eles vendem será sempre mais barato que o que nós vendemos.

Desculpem-me por não querer viver num mundo como o deles. Se puder, sempre que puder, consumirei conscientemente, racionalmente, economicamente. Mesmo sob uma lógica EGOÍSTA, preferirei gastar mais, se isso me permitir manter a minha qualidade de vida. Não deixa de ser uma triste que se tenha que pagar por isso, mas que vale esse esforço, vale.

Anónimo disse...

A China não constitui somente uma ameaça para Portugal mas também um conjunto de oportunidades para as empresas portuguesas, nomeadamente as multinacionais portuguesas. Existe actualmente um conjunto de empresas multinacionais portuguesas que investem na China (a entrada da China para a OMC permitiu exactamente que o comércio chinês entrasse na ordem internacional nos mesmos moldes ou quase nos mesmos moldes dos restantes países). Estas empresas estão exactamente a permitir ganhos de eficiência uma vez que estão a aproveitar a mão-de-obra barata chinesa que constitui uma vantagem comparativa para este país.
Portugal actualmente exporta cortiça e moldes de madeira para a China e pode certamente apostar no fortalecimento destas relações comerciais.

O aumento da competitividade de Portugal passa pelo aproveitamento de oportunidades no cenário internacional.

Sónia Monteiro disse...

A propósito, recordei-m das palavras de um Senhor, João de Deus Pinheiro, que dizia que isto da globalização e abertura do Comércio ao Oriente lhe fazia lembrar uma corrida, onde um atleta corria com umas sapatilhas de topo, supersónicas, e outro atleta com umas sapatinhas, carregadas com dois pesos de vários Kg... O primeiro atleta representava a China, o segundo nós...