terça-feira, 21 de março de 2006

[O QUE TEM ACONTECIDO EM SORBONNE...]
O CPE, contrato de primeiro emprego, trata-se de um contrato reservado a jovens até 26 anos, onde é oferececida aos empregadores a possibilidade de dispensar sem justificação (SEM JUSTA CAUSA) um trabalhador, durante os dois primeiros anos.
Este contrato, que tem agitado, sobretudo, os estudantes franceses, não passa de uma forma camuflada de alargar "ilegalmente" o período experimental a que cada trabalhador está inicialmente sujeito na empresa, violando quaisquer princípios de segurança jurídica e estabilidade.
Em Portugal, esse período não excede os 240 dias, sendo que esta duração se refere aos quadros de direcção e superiores, onde o grau de confiança exigido é bem maior.( arts. 104º e ss, do Código de Trabalho). Em França, querem alargar esse período de insegurança e incerteza que recai sobre o trabalhador para dois anos. Haverá legitimidade? Sustenta Villepin que é uma arma necessária para combater o desemprego. Será?
Será que é através da penalização da geração mais nova, que entra no mercado, que se combate o desemprego? Será através de uma discriminação em função da idade, que onera os mais novos e protege os mais velhos, que se deve combater o problema do desemprego?
Eis o Estado Social francês! Fraterno?!
Igualitário?! Solidário?!

21 comentários:

Anónimo disse...

Ilegalmente? Folgo em saber que tão bem conhece a legislação francesa... Óbvio será que, aparentemente, tal lei contraria qualquer estabilidade e segurança no emprego de um qualquer trabalhador. No entanto, terão que ser avaliados todos os pressupostos de tal lei para se fazer um comentário deste género. Caso contrário poder-se-à cair crítica eventualmente infundada que poderá ser apelidada de pueril...
Gostava que comentasse é a maneira, e modo que encontraram os pseudo-libertários estudantes para se fazerem ouvir. Exemplo claro de Democracia...

Moby Dick

de la Serna disse...

Eis o estado social francês quando a direita está no poder e o Chirac tenta imitar o deGaulle

Sónia Monteiro disse...

De La Serna,
Perdoa-me o revisionismo mas faço-o em função da actualidade: "são os bichos-papões de Direita que comem criancinhas ao pequeno-almoço"!

Sónia Monteiro disse...

Caro Moby Dick,

1. Um contrato implica, como deve saber, um acordo de vontades divergentes mas que confluem no mesmo sentido e uma certa paridade entre as partes. Neste contrato, não há obviamente essa paridade, pois o trabalhador que pretende entrar no mercado de trabalho vê-se forçado a aceitar a proposta/imposição do empregador (o tal CPE) - nada é acordado!
Como deve ter percebido, o primeiro-ministro francês optou por chamar Contrato de Primeiro Emprego e não alargamento do período experimental, o que não é de todo inocente! Pois, assim, a diminuição das garantias do trabalhador não são, desta forma juridicamente artificiosa "impostas" pelo Estado mas "acordadas" entre as partes.

2. O "ilegal" está, na minha opinião, nesta subversão da lei.

3. Quanto aos meios utilizados pelos jovens, isso é uma outra questão que, nem de perto, nem de longe, põe em causa a (i)legitimidade desta medida, que é isso que questiono com o meu post.

Pedro Teles disse...

Cara sónia, o estado social frances, tal como ficou conhecido, não é este!! +e um estado onde existe realmente liberdade, igualdade e fraternidade! não caia no ridículo em definir com esta medida abusiva, não digo ilegal, pois desconheço como foi aprovada, que procura colocar os jovens franceses em situação de trabalho precário.

Tal como no resto da Europa a Direita abomina o estado social e Chirac, procura assim terminar com ele em frança, dar-lhe a estocada final.

Eis o resultado disso...

de la Serna disse...

Pelos vistos parece que comem Sónia... Estás desculpada pelo revisionismo.

Eins disse...

Mas alguém tem dúvidas de que ESTA medida em concreto é o resultado de décadas do tal "Estado Social" de liberdade, igualdade e fraternidade? O carcanhol não dura para sempre. Sem ele, as empresas também não. Os empregos também não. Porque é que caem sempre no erro de pensar que as coisas (só) acontecem porque a Esquerda ou a Direita estão no poder?

Já referi, sobre imensos aspectos da vida económico-social portuguesa, o que quero dizer no parágrafo anterior. Acerca da Segurança Social ou do défice, e o desemprego tem a mesma lógica de funcionamento.

Meus amigos, quando o Estado for obrigado a abolir a Segurança Social como a conhecemos, vamos culpar quem lá está, mesmo que não tenha tido a "sorte" dos anteriores governantes em poder adiar a decisão?

Será assim tão complicado perceber-se que os problemas (globais) de abrandamento e recessão económicas não são solucionáveis com subsídios e benefícios estatais? Ao invés, deve permitir-se que a iniciativa privada fomente o crescimento económico, como sempre sucedeu nos casos de sucesso desde o fim do mercantilismo. E não venham falar no New Deal, acho que essa discussão já não interessa.

Isto tudo para dizer o quê? A quem gosta de culpar quem lá está, eu respondo (ainda que discorde do que vá dizer a seguir...):
A culpa é toda da Esquerda! Se não andassem a elaborar legislações demasiado exigentes para o patronato, geradoras de todo o tipo de laxismos e faltas de produtividade (e se discordam, perguntem a vós próprios porque é que a função pública é DE LONGE a classe mais improdutiva e dispendiosa da população activa), agora não era preciso medidas tão drásticas para impulsionar o emprego e a economia. É muito fácil pensar que, graças a esta medida, os patrões vão poder despedir, indiscriminadamente, quem quiserem, desde que durante os 2 primeiros anos de contrato. Mas ninguém pensa nos empregados que, ao abrigo de proteccionismos a roçar o absurdo, levam a economia ao estado em que se encontra. Acreditem que as falências não foram todas causadas por patrões que queriam comprar mais um Ferrari...

Clarifico, mais uma vez, que este último parágrafo foi uma resposta ao nível dos comentários que atribuem as culpas unicamente a quem ocupa o governo no momento. Preferia, no entanto, assumir que entre medidas correctas e erradas, todas têm o propósito de corrigir situações nocivas/insustentáveis, e que os problemas serão sempre mais passíveis de resolução por parte de quem tenta do que por parte de quem se "encosta".

Porque, efectivamente, o problema existe. Se esta é ou não a melhor forma de o resolver, já são outros quinhentos. Quanto a esses quinhentos, falar sobre eles implica apresentar alternativas, e não dizer apenas que tudo o que se faz, faz-se mal porque "são de Direita" ou porque "são de Esquerda". Assim, parece-me claro que a discussão se tem quedado apenas pelos "primeiros quinhentos". Daí a minha resposta.

Cumprimentos.

Eins disse...

Para aqueles que (apoiando o partido X) teimam em pensar que tudo o que é X é bom, e o que é Y é errado, devo dizer-vos que muitas medidas que, por motivos de insustentabilidade, sejam implementadas forçosamente, podem sê-lo por parte de qualquer facção partidária...

Por exemplo, gostava de ver os defensores acérrimos do PS a justificar uma abolição do sistema de Segurança Social... só porque ao PS calhou a batata quente, devido aos governos (de Direita e Esquerda) anteriores, que com medo de perder votos, nada fizeram e tudo adiaram...

Eins disse...

Peço desculpa por escrever "às pingas", mas não deixa de ter piada que este post surja no seguimento de um outro em que se refere um aspecto "de louvar" sobre os hábitos de quem trabalha em Portugal...

Eins disse...

Temo que o meu estilo de comentador "conta-gotas" comece a tornar-se um vício. Mas, Sónia, deixa-me responder a uma pergunta tua. Quando dizes "Será que é através da penalização da geração mais nova, que entra no mercado, que se combate o desemprego? Será através de uma discriminação em função da idade, que onera os mais novos e protege os mais velhos, que se deve combater o problema do desemprego?"

A medida pretende fomentar a criação de emprego. Repara numa coisa: o que é que justifica o crescimento brutal no desemprego verificado na Europa Ocidental nos últimos 5 anos? As condições económicas não permitem às empresas contratar, porque face ao decréscimo nos fluxos económicos de bens, mercadorias e capitais, as empresas não tm volume de negócio para manter a sua dimensão, quanto mais para a aumentar. Assim sendo, tal repercute-se na criação de emprego. Se a legislação laboral protege quem está empregado, e não há "benefícios" para a criação de emprego, o facto de os empregadores não poderem despedir quem lá está não lhes permite contratar mais ninguém. As coisas não funcionam só porque é bonito. Basicamente, é pensar na alternativa a um contrato de trabalho (inicial) precário... Essa alternativa é o desemprego. Fica-se desempregado até aos 26, e depois já se escapa à medida.

Tal como vim a referir nos comentários anteriores, não estou a discutir aqui se esta é ou não a melhor medida a ser tomada. Mas tem racionalidade económica e, amigos da Esquerda, social também.

Sónia Monteiro disse...

Para além dos problemas sociais e pessoais que esta medida pode colocar ao trabalhador (e são óbvios), não poderá, por outro lado, pôr em causa algumas mais-valias fundamentais para o sucesso da empresa?
A precariedade que o CPE gera nas relações laborais faz com que o trabalhador (com menos de 26 anos) não se sinta "peça" indispensável no funcionamento, ainda que a curto prazo, da empresa, uma vez que sabe que durante 2 ANOS (e não dois meses) não tem quaisquer garantias tuteladas!
Tudo isto não originará um clima de instabilidade e insatisfação laboral que pode pôr em causa o sucesso da empresa?
Estudos demonstram que pessoas satisfeitas trabalham melhor e que a produtividade só cresce com estímulos! Qual o estímulo que esta medida apresenta a um jovem que durante x anos investiu na sua formação e depara-se com um mercado de trabalho, de certa forma, hostil?!

Não entendo que os fins justifiquem os meios, há direitos fundamentais que na, minha opinião, não devem ser negligenciados! Concordo que esta medida pode ser um incentivo à criação de emprego, sem dúvida, mas é-lo ao arrepio de princípios fundamentais.

Figuras como contrato a termo certo, trabalho temporário podem, talvez, ser desenvolvidas e figurarem como alternativas, pois, pelo menos aqui, o trabalhador tem maior segurança jurídica.

Caro Eins, tens toda a razão: "racionalidade económica" mas só isso! Não sou "amiga de esquerda" e de social, nesta medida, vejo muito pouco.

Sónia Monteiro disse...

"Olhando para os dados estatísticos da França relativos a jovens trabalhadores desde o início dos anos 1980, concluímos que as reformas aumentaram substancialmente a rotatividade, sem atingir uma redução substancial na duração do desemprego. O seu efeito no bem-estar dos jovens trabalhadores parece ter sido negativo."

http://puraeconomia.blogspot.com/2006/03/contratao-e-desemprego.html

Sónia Monteiro disse...

Uma outra solução apontada: PROGRESSIVIDADE!

"Num contrato progressivo, os direitos do empregado aumentam lentamente com o tempo: não existe o dia fatídico em que se tem de saltar de um contrato para o outro.»"

http://puraeconomia.blogspot.com/2006/03/contratao-e-desempre

Pedro Teles disse...

Gostei de ver a defesa acérrima que eins faz do liberalismo economico, inviabilizando mesmo o futuro do estado social. Só umas pequenas coisas me ficam na cabeça ao ler as sábias palavras de eins:

Se o liberalismo economico é a solução porque conduziu ele ao crash da bolsa em 29?

Se o liberalismo economico é a solução porque é tão grande o desemprego nos EUA?

Agora percebo o porque de não querer falar do new deal, foi ele o coveiro do liberalismo economico.

Outra coisa "se discordam, perguntem a vós próprios porque é que a função pública é DE LONGE a classe mais improdutiva e dispendiosa da população activa", esta afirmação é válida em Portugal, mas no norte da Europa já não se passa isso, sendo mesmo a classe mais produtiva desses países.

Penso que este modelo social europeu está esgotado, mas mesmo assim prefiro-o ao liberalismo economico e às assimetrias que este provoca. Evoluação esta construção tipicamente europeia, repense-se o modelo social, agora deixem no fundo da tumba o que está lá vai para quase 100 anos.

Eins disse...

Não confundam o que eu disse com defesa do liberalismo económico. Acho que (até) me repeti em dizer que não estava a defender a medida em si, apenas negar a ideia de que a culpa da situação não se fica por quem lá está.

Há várias soluções possíveis para o problema. É certo que o Estado tem várias formas de fomentar a criação de emprego, como no nosso caso, a isenção de pagamento de segurança social (a fatia do empregador, claro) dos empregados em 1º emprego, por exemplo. E outras mais. A questão é que não basta pensar em qual a solução que resolve um de muitos problemas, e agrava outros.

Os Estados começam a ficar seriamente comprometidos com muitas das funções sociais que desempenham. Lanço apenas esta ideia: é preferível o Estado envolver-se ineficientemente e insustentavelmente em todas as áreas que (efectivamente) necessitam de regulação, ou será que, à escassez de recursos, se deve aliar uma racionalização da acção do Estado? É que, se houvesse dinheiro, por mim até podiam pagar o salário a toda a gente, para ter empresas com maior dimensão... Foi essa a questão que tentei levantar anteriormente.

Sónia, concordo com tudo o que disseste. E acredito que a medida que apontaste tivesse outra aceitação e até eficiência nos resultados. Mas como impôr um contrato progressivo? Torná-lo obrigatório iria, a curtíssimo prazo (e mantendo-se as condições económicas) muito provavelmente matar a criação de emprego. Essa é que é a verdadeira questão. A iniciativa privada, mediante tal regulação, tem a hipótese de "não fazer". Ou seja, escolher entre o CPE e essa medida é o mesmo que escolher entre o CPE e desemprego... Devemos de uma vez por todas perceber que já não há muito por onde ir. Os recursos não caem das árvores...

Pedro, muitas das tuas perguntas têm resposta e não estão necessariamente ligadas ao liberalismo económico. O crash da Bolsa aconteceu porque a "instituição" não sabia até onde ir, não estava devidamente ciente da sua função, nem como lidar com a especulação. Aconteceu assim com a moeda, ou com muitas das instituições que hoje vês funcionarem na perfeição. Porque se aperfeiçoaram. Quanto ao new deal, foi solução para um problema específico, em condições particulares, e resultou. Quando disse para não o trazermos à questão, foi porque já se falou acerca disso num post anterior, e a discussão não durou muito... por isso não confundas as coisas. A questão dos EUA não pode ser vista com uma moldura "portuguesa". O desemprego que eles têm, a pobreza em que milhões de americanos vivem não é exemplo para ninguém. Mas vê o dinheiro que estouram em armas e outras coisas que tais, e tenta entender que as prioridades deles são outras. A sua megalomania poderá ser a sua ruína. Agora, quanto aos países do norte da europa, basta olhares para os impostos que pagam, e se tiveres em conta que não há fuga, facilmente percebes que isso, connosco, não resulta. Nunca vai resultar num país de Chicos Espertos como Portugal. Mas fazemos parte da UE, podemos sempre ir para lá viver.

É um facto que o modelo está esgotado. E esse é o problema. Esgotado nos recursos. Deve ser repensado por forma a que seja sustentável. Para que os direitos não desapareçam dum dia para o outro. Porque essa é a outra questão importante... afinal quando se retira uma benesse a uma qualquer classe profissional ou social porque não há "possibilidades" de a manter, o que é que isso significa? Que o Estado foi mal gerido, ou que a medida nunca devia (pelo menos na forma que levou à sua extinção) ter sido implementada?

Sónia, eu sei qual é a tua orientação política. ;)

Eins disse...

Sónia, quando falei em racionalidade social referia-me à diferença entre trabalhar (ainda que com um contrato precário) e não trabalhar de todo. Quem sabe o próprio Estado começa a não conseguir suportar os custos do desemprego? Não digo que seja essa a questão, e quase todos os cenários que sempre referi são hipotéticos, ainda que possíveis. Não sei o que vai na cabeça dos governantes, e se as medidas são tomadas por necessidade ou pressão de alguns. A energia nuclear resolve muitos problemas mas também mata muita gente.

Vamos imaginar:
- um país a braços com uma estagnação económica prolongada, à procura de uma retoma económica que tarda;
- um Estado com problemas ao nível da receita, porque a actividade económica é baixa, as contribuições são baixas, produz-se pouco, logo há poucos impostos;
- o mesmo Estado a braços com problemas na despesa, porque o preço do petróleo sobe em flecha, os preços acompanham a subida, as empresas fecham, o desemprego sobe, o consumo desce, o investimento e a poupança retraem-se;
- ou seja, o Estado está a falir;
- a retoma económica inicia-se a custo, os níveis de confiança são baixos, o clima político-sócio-económico global é instável, e o terrorismo não ajuda. Saem prejudicados os fluxos comerciais, o investimento no e do estrangeiro, enfim, alguns dos motores do crescimento estão gripados;
- entre muitas coisas, o Estado já não suporta os custos do desemprego. Deve arranjar uma solução para que as empresas contratem, quem sabe isso estimule a produção, estimule o consumo, a poupança (e, via banca, o investimento...) e permita níveis de confiança superiores, ao mesmo tempo que permite uma lufada de ar fresco ao Estado que tem menos subsídios para pagar;
- não pode fazê-lo através de benefícios quantificáveis, porque não tem recursos;
- acrescem os problemas com a segurança social, o apoio às actividades económicas, os problemas ambientais, a solidariedade, a educação, a saúde, a defesa, a justiça, e de repente damo-nos conta que afinal são tantas as coisas para as quais é preciso dinheiro que, realmente, é necessário começar por algum lado...

Acho que não criei um cenário muito irrealista, criei? E agora, nestas condições em que o que se impõe é a minimização da despesa e a racionalização da receita, o que farias quanto ao problema do desemprego? Parece-te assim tão desprovido de racionalidade social o CPE?

Falando na realidade agora, não se pode garantir que os motivos em França são estes, que as condições são estas, e na verdade os governantes até podem ser os maiores tiranos. Mas é preciso não esquecer 2 coisas:
- a mesma medida pode ser um abuso num contexto, e um milagre noutro contexto; e
- se, em alturas de crescimento económico, a despesa tivesse sido controlada (veja-se o caso português), e os recursos aprovisionados porque se sabe que a economia funciona por ciclos (depois do bom, vem o mau... sempre), talvez hoje houvesse recursos para manter os benefícios que existem. Talvez hoje nada disto fosse necessário. Talvez.

Quando há, há para todos, não é? E quando não há... inventa-se???

de la Serna disse...

O problema é que a lei que se implementou em França não vai resolver em nada o problema do desemprego. Vai fazer mas é com que a precariedade do 1ª emprego aumente.

Ora bem, tendo os empregadores franceses (tal como os portugueses) o direito de contratarem pessoas e "experimentá-las" durante algum tempo a ver se se adequam ao cargo, porquê dar-lhes ainda mais esse poder? Isso é utilizar pessoas como mercadoria (preciso de entregar esta encomenda até ao dia X mas não tenho mão-de-obra suficiente, logo toca a meter cá para dentro putos e depois eles que se desenrasquem).

Isto é tudo muito bonito visto para o empregador porque vai encher os bolsos da sua empresa e, supostamente, contribuir para a saúde económica do país. E agora pergunto-me eu, que sou um leigo nestas matérias de economia, como é que os consumidores (principalmente os da faixa etária visada pela lei), vão ter confiança e simplesmente consumir se não sabem se vão estar 1,2, 4 meses no mesmo emprego? Realmente não percebo como é que isso vai contribuir para a economia. É que, acho eu, quem contribui também para a economia são os indivíduos que também são visados por essa lei. Mas isso sou eu que digo, não percebo nada de economia, e o que sei aprendi a ver o rtp financial times na rtp2...

Eins disse...

Caríssimo, não deixas de ter toda a razão no que dizes. E também nada garante que, na realidade, a medida contribua para uma melhoria no desemprego, e apenas contribua para a precaridade do emprego jovem. Nada garante que os únicos beneficiados sejam os empregadores e nunca os empregados. Nada garante que a medida não seria tomada, não fossem os poderosos lobbies económicos. Considero isso tudo bastante provável, não me confundas.

Mas há condições em que se pode verificar exactamente o contrário. Se, na realidade, ninguém empregar qualquer jovem, porque as condições económicas não o permitem, estamos em recessão e tal... e ainda por cima o Estado se der contra que não tem dinheiro para pagar aos empregados, o que achas que os jovens vão pensar? Se calhar, preferem trabalhar o tempo que puderem do que não trabalhar. Terá mesmo que se deixar chegar as coisas a esse ponto, para que as pessoas percebam? Se ninguém conseguisse emprego e o subsídio de desemprego fosse "coisa do passado", qualquer medida que fosse implementada no sentido de tentar ajudar à criação de emprego seria aplaudida... entendes?

Às vezes o facto de contrapor alguns argumentos não significa que seja a favor do estado 100% liberal, ou do fim de qualquer forma do estado-providência, ou até que não concorde com nada do que tento contra-argumentar. Nesta questão, a minha intenção foi demonstrar que é possível que haja uma certa racionalidade na medida, se estiver aliada a uma necessidade inadiável de resolver um problema crescente, sem recursos para isso. E do conceito de necessidade inadiável surge o 2º motivo de todas as minhas intervenções: não se deve isolar a responsabilidade de certas medidas, encerrando-a apenas em quem as toma.

Sabes, de la serna, no mundo do trabalho vê-se de tudo. É desconcertante pensar que muitas medidas não são tomadas por prejudicarem uma minoria, em detrimento do favorecimento da maioria. A minha experiência pessoal (e eu presto serviços de consultoria, portanto, aparte dos 1.800 colaboradores que a minha entidade empregadora tem, eu trabalho com mais de 80% das 250 maiores empresas do país), e posso falar de muito do que ouço, e de muito do que lido. Os empregados escolhem "burlar" o Estado ao receber metade do salário a recibos verdes, e declarar apenas a outra metade. No entanto, o patrão, se quiser, sem ir contra a lei, pode então passar a pagar só a parte declarada pelo funcionário e este nada pode fazer. Mas não o faz. Isto para dar uma ilustração da seguinte situação: o laxismo/improdutividade estão instalados, e são protegidos pela legislação. A iniciativa privada é orientada para o lucro, e daí que retribua, sem problemas, com remuneração, quem o mereça. Se um funcionário acrescenta valor à empresa ele não vai ser despedido. Por outro lado, não se pode despedir sem mais nem menos, mesmo quem não produz.

A empresa onde trabalho está representada em mais de 100 países e faço algumas formações com gente de fora, e todos nos perguntamos como é possível que, sendo o mesmo patrão, as assimetrias possam ser tantas. Vou dar-te um exemplo: um assistente (entra no escalão mais baixo) para uma das áreas em que prestamos serviços tem as seguintes condições: X de ordenado, e isenção de horário de trabalho (basicamente, em 6 dos 12 meses do ano, trabalha das 9 às 2 ou 3 da manhã, sábados, domingos e feriados, sendo convertidas as horas extra em dias adicionais de férias, mas apenas na parte correspondente aos fins de semana e feriados - à semana é como se trabalhasse 8h por dia... eu sei porque passei por isso). Na Suiça, o mesmo assistente, para as mesmas funções, recebe 6X (rendimentos LÍQUIDOS!), carro e telemóvel da empresa, entra às 8 e sai às 5, e tem horário de verão (sai às 4 e meia). Se sair mais tarde pagam-lhe horas extra.

Sabes porque acontece isto? Porque em Portugal, as empresas para quem prestamos serviços são ineficientes, é preciso o triplo do tempo para fazer o mesmo trabalho. Não se mexem, não tratam de recolher a informação que é necessária para um melhor serviço, ou seja, para o bem DELES. Tornar-se-ia incomportável nós termos um horário fixo como o suiço. Não conseguíamos fazer nada. Garanto-te que, em Portugal, o empregado improdutivo (não totalmente, mas abaixo da possibilidade) constitui a maioria e não a minoria.

A minha opinião tem mudado muito, acerca desta matéria. Cuida-te porque provavelmente vai-te acontecer o mesmo.

Eins disse...

Errata:
No 2º parágrafo do comentário acima deste, onde se lê "e ainda por cima o Estado se der contra que não tem dinheiro para pagar aos empregados", deve ler-se desempregados...

Sorry :p

Kordny disse...

fds...isto e k dar aos dedos...li kuase o 1º do eins ate ao fim, tenho k estudar. so keria perceber 1 coisa. pk krl e k e preciso meter partidos politicos, eskerdas e direitas, liberalismos e conservadorismos, ou seja conceitos redundantes e e limitadores no meio de discussoes tao importantes?eu axo k s um dia houvesse um nazi com uma ideia que podia transformar o mundo numa utopia sem grandes custos de qualquer tipo, um gajo tipo einstein mas da sociedade moderno, e do globalismo e essas coisas todas, nos iamos todos cagar na hipotese de um mundo muito melhor so pk o gajo era "nazi". e n e k eu seja nazi. era so pa explicar o ponto de vista. n m parece k seja preciso perceber de politicas e direito para entender k esta medida nao tem viabilidade. em primeiro lugar a um nivel de equidade em completamente ridiculo. e dai talvez seja mesmo ilegal. mas mais que nao seja, porque so alguem muito ingenuo nao iria previr uma reacçao destas (dakeles anginhos de washington dc k pensam k katrina era uma brisa de primavera). e se um pais sem dinheiro ou la o k esta na base da medida e ingovernavel e inviavel, um pais no estado em k a frança esta estes dias, muito menos o e.

PS - parabens pelo blog, e smp bom haver sitios ond s pode dar a opiniao e se discute coisas importantes, mesmo para aqueles k n sao entendidos como eu =) peace [] *

PS2 - espero ansiosamente o posto sobre a revolta dos camelos tunisinos devido ao enorme horario semanal a que sao sujeitos! viva a liberdade dos camelos! e a nossa tambem!!

Sónia Monteiro disse...

Morte anunciada do Estado Social...