domingo, 5 de março de 2006

Porque há 410 anos Descartes nasceu…

(1596 - 1650)

O filósofo francês fez da dúvida o ponto de partida para alcançar a verdade filosófica, através da razão. As ideias já constituídas eram, na sua opinião, um obstáculo para o verdadeiro conhecimento.
Assim, pondo tudo em dúvida (começando do zero em absoluto), Descartes chegou à conclusão de que podia duvidar de tudo excepto de uma cosia: enquanto duvida, existe – Cogito ergo sum: aquele que quer duvidar de tudo, não pode duvidar que existe.
Sobre este fundamento, Descartes construiu toda a sua filosofia.

[Em 1644 publicou Princípios da Filosofia]
Na primeira parte desta obra, Descartes parte da dúvida metódica e chega ao primeiro princípio que constituirá a base do seu conhecimento: cogito ergo sum.
Tendo demonstrado a sua existência como ser pensante, Descartes mostra-se insatisfeito porque se encontra sozinho no seu solipsismo e necessita de encontrar algo ou alguém que lhe garante a verdade do seu conhecimento (fundamento gnoseológico), bem como a sua própria existência (fundamento ontológico). É dentro destes dois fundamentos que Descartes chega à ideia de Deus.
E como procurou provar racionalmente Descartes que Deus existe?
1. A partir da essência de Deus descobrimos a sua existência. A ideia de um ser omnisciente e extremamente perfeito, leva-nos a deduzir a existência de um Deus Perfeito.
A ideia de perfeição não pode ter tido origem em nós, uma vez que somos imperfeitos, limitados e porque duvidamos. Por outro lado, do nada também não pode surgir coisa alguma. “Há uma ideia no homem: a ideia de infinito e de perfeito. Só uma natureza infinita que exista pode pôr a sua ideia numa natureza finita pensa.”

2. Se conhecemos a ideia de perfeição e nós somos imperfeitos; Se Deus é perfeito; Se a existência é uma maior perfeição que a não existência, logo Deus existe.

3. Não podemos ser nós a causa de nós próprios, caso contrário ter-nos-íamos criado totalmente perfeitos. E não somos perfeitos pois duvidamos, temos um fim (limitados) e não podemos controlar o caos da morte, somos dependentes. Logo, o autor de nós humanos tem de ser infinito, independente e conhecedor de todas as coisas e esse ser é Deus.

4. Descartes termina demonstrando que Deus não é um génio maligno ou enganador, dado que a vontade de enganar é sinónimo de imperfeição, pois procede da malícia ou do temor e da fraqueza e tais carências não podem ser atribuídas a Deus que é perfeito.
Neste ponto, Descartes referiu três causas do erro: a sobrevalorização dos sentidos; a sobrevalorização do intelecto e a liberdade de vontade.

4 comentários:

de la Serna disse...

É engraçado um post sobre Descartes com este teor vindo de ti. Então não é que em discussões passadas neste mesmo blog disseste que a religião não tinha fundamento filosófico, que este era contrário à sua essência e agora já vens toda contente colocar um post sobre Descartes para demonstrares que a religião anda de mãos dadas com a Filosofia?
Ou esta só serve quando diz bem do que nós achamos estar correcto?
A 15 de Outubro desafio-te a colocares um post sobre Nietzsche.
A ver se desfazes essas confusões Sónia.:)

Sónia Monteiro disse...

Há quase um ano eu escrevi isto (as tais discussões passadas, que tive o cuidado de reler, para verificar se alguma vez disse aquilo de que me acusas):

“SPSM said...
Caro Zé,
1- quando digo que religião não é a mesma coisa que a filosofia, procuro indicar que a religião transcende os limites da filosofia. "Há razões que a própria razão desconhece"....
Se procurares conhecer um pouco mais da religião católica, e penso que o teu espírito aberto e humilde te permitirá esse desafio, verás que ela não se funda somente em dogmas, aos quais tu a queres reduzir para fundamentares a tua crítica.”

Se alguma vez interpretaste que, na minha opinião, a religião renega a filosofia… lamento mas essa interpretação não foi, de certeza, a mais correcta! São realidades diferentes mas não incompatíveis.
Aliás o post que acabo de fazer reflecte um ramo da filosofia, sobre o qual Descartes se debruçou (e muito bem): a metafísica. Um ramo que estuda o conhecimento da realidade divina pela razão, o conhecimento de Deus e da alma…
Aliás se leres a obra apontada, vais perceber que o próprio autor distingue as verdades encontradas pela razão da fé ou verdades reveladas (aquilo que sempre quis dizer e ao que parece, por culpa minha ou não, não foi perceptível a todos)! Estas não são verdades antagónicas mas diferentes e complementares!
Como poderia eu negar a razão na minha religião quando acredito e afirmo que foi que Deus nos dotou de uma luz natural (a razão) para a podermos usar LIVREMENTE . Se negasse, aí sim estaria a ser muito incoerente!

Pedro Teles disse...

Sónia não me quero intrometer na discussão filosófica que tens com de la serna, mas peço-te que leias o livro de um filósofo português António Damaso, salvo o erro, que escreveu precisamente sobre o erro de descartes

de la Serna disse...

Sónia, se quando dizes que a religião transcende os limites da filosofia não sei se haverá muito mais a dizer!
"Uma religião não tem que se fundar, no meu entender, em reflexões filosóficas(religião/fé # filosofia)". Foi isto o que também disseste na mesma discussão que referiste. O que eu daqui tiro ao ler os comments da discussão passada e agora os desta (e acho que não devo ser o único) é que para ti a filosofia serve a religião quando a ajuda a fundamentar, pelo contrário, quando esta a critica, já não serve para a religião pois é contrária ao que esta defende.

Mas não penses que tudo o que tenho dito é para destruír as crenças das pessoas gozar com as mesmas, antes pelo contrário. Como agnóstico que sou quero é esclarecer-me, se o que digo e o que penso ajudar os outros a se sentirem esclarecidos, tanto melhor, é sinal de que o meu pensamento não é tão inútil quanto às vezes penso:)).

Com isto quero dizer que não estou a tomar partido nem de Descartes nem de Nietzsche (como foram os nomes de que se falou, resolvi tomá-los a título exemplificativo de duas posições contrárias no que diz respeito à religião), até porque acho que tanto um como outro têm lacunas nos seus raciocínios, mas que não cabem a mim avaliar nem, consequentemente, expôr essa avaliação (seria muito pretensioso da minha parte).